Sobre a técnica da psicanálise: a associação livre
- marianameireles
- 19 de jun. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 14 de ago. de 2022

De vez em quando escuto de algum paciente novo, que nunca ouviu falar de psicanálise, sua rápida conclusão no início: “bom, então é só eu falar?” Ou ainda “me pergunte o que você quer saber”.
Bom, hoje eu queria falar sobre isso. Sobre essa fala em análise que não tem nada de “apenas falar”.
Falar é uma atividade no mínimo complexa, são testemunhas disso aqueles mais tímidos que não conseguem falar em público, por exemplo. Essas pessoas já nos dão pistas para compreender que falar é uma operação que envolve pelo menos um sujeito, um ouvinte, uma interpelação, uma demanda, uma ideia, uma exposição, um encontrar-se com aquilo que nem se sabe que se sabia...
E percebendo essa complexidade que Freud vai propor a associação livre de ideias como a única regra fundamental da psicanálise. Que implica no seguinte: que o paciente fale em análise tudo que lhe vier à mente, que se comporte como um viajante de trem que relata tudo que lhe passa no horizonte da paisagem, sem censurar aquilo que lhe ocorre mesmo que lhe pareça besteira.
Nas primeiras sessões os pacientes podem ter dificuldades com essa proposta, justamente porque a censura comparece. É aí que se encontra, nessas resistências ao associar livremente, os conflitos psíquicos valiosos para a análise.
Então, voltando ao “é só falar?”, com Freud diremos que sim, é só falar. O associar livremente, que de “livre” não tem nada, é o que possibilita emergir, vir à tona, aquilo que Freud chamou ocorrências na fala [Einfall], como os atos falhos, os chistes e outras formações do inconsciente. O que ocorre [Einfall] nas associações livres dos pacientes tem a ver com o inconsciente de cada sujeito, com seus conflitos, com suas resistências, com seu sintoma.
E como diria Goethe: “falar é uma necessidade, escutar é uma arte”.
Bom, você já parou para reparar na sua fala? Em algum momento já se deu conta de que quando se fala vai-se encadeando um assunto no outro? Já disse algo e se surpreendeu com sua própria fala?
Arte: Francesco Ciccolella